No segundo dia de agenda, presidente do Brasil defende que outras nações integrem a cúpula do Brics
Além da expansão do bloco e a cooperação entre países para a retomada responsável do crescimento econômico, Lula criticou a guerra na Ucrânia
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou nesta quarta-feira (23/08) da Cúpula de Chefes de Estado dos BRICS, em Joanesburgo, na África do Sul. Em seu discurso, Lula manteve o posicionamento favorável à entrada de novos países no grupo e a uma moeda única para transações comerciais. Também pediu a cooperação mundial pela transição energética, o combate às desigualdades, além de um esforço coletivo para frear a guerra na Ucrânia.
Junto do Brasil, fazem parte dos BRICS, a Rússia, Índia, China e África do Sul. No encontro, o presidente afirmou aos seus pares que o mundo enfrenta um cenário cada vez mais complexo e que o BRICS está consolidado como marca e ativo político de valor estratégico. “O interesse de vários países de aderir ao agrupamento é reconhecimento de sua relevância crescente. Que o ímpeto que motivou a criação do BRICS, há 15 anos, continue a nos inspirar na construção de uma ordem multipolar, justa e inclusiva”, afirmou.
O grupo representa 41% da população e é responsável por 31% do Produto Interno Bruto (PIB) global, em paridade do poder de compra. Para Lula, a criação de uma moeda para transações comerciais entre os países-membros vai ampliar o acesso a financiamentos e alavancando as economias.
Ao argumentar, o presidente apontou como caminho o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para oferecer alternativas próprias de financiamento, adequadas às necessidades dos países em desenvolvimento. “A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimento entre os membros do BRICS aumentam nossas opções de pagamento e reduzem nossas vulnerabilidades”, disse, reforçando que os países em desenvolvimento precisam de um sistema financeiro internacional que ajude a implementar mudanças estruturais, ao invés de alimentar as desigualdades.
Lula destacou ainda, que há outros dois desafios comuns ao planeta e que andam lado a lado: o crescimento das desigualdades e o agravamento da crise ambiental. Segundo ele, o mundo vive o maior aumento da desigualdade entre os países em três décadas e muitas metas estão estagnadas ou sofreram retrocessos. “É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, pobreza e outras violências. A descarbonização de nossas economias deve vir acompanhada pela geração de empregos dignos, industrialização e infraestruturas verdes, e serviços públicos para todos”, defendeu.
O presidente avalia que o Brasil está recuperando seu protagonismo na agenda ambiental e que a coordenação com países em desenvolvimento é fundamental para a preservação de biomas e florestas. “A Cúpula da Amazônia é um marco para a necessária construção de um modelo de desenvolvimento sustentável mais justo. Nossos recursos não devem ser explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos, sobretudo do bem-estar das populações locais”, afirmou.
Lula cobrou novamente dos países desenvolvidos responsabilidade ambiental e cooperação para que outras nações possam se desenvolver de maneira sustentável e socialmente justa. “Os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório. Eles têm uma dívida histórica com o planeta Terra e com a humanidade. Precisamos valorizar o Acordo de Paris e a Convenção do Clima, em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul Global”, afirmou.
Guerra na Ucrânia
Em seu discurso, Lula fez uma convocação para que os países BRICS se empenhem pela paz entre Rússia e Ucrânia, já que todos sofrem as consequências da guerra, principalmente as populações mais vulneráveis dos países em desenvolvimento. “Não podemos nos furtar a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, nem ficarmos indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia. Estamos prontos a nos juntar a um esforço que possa efetivamente contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”, afirmou.
Na avaliação do presidente, os BRICS devem atuar como uma força pelo entendimento e pela cooperação entre Rússia e Ucrânia, e a busca pela paz deve ser coletiva e uma condição para o desenvolvimento justo e sustentável. “Todos merecem viver em paz. É inaceitável que os gastos militares globais em um único ano ultrapassem 2 trilhões de dólares, enquanto a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) nos diz que 735 milhões de pessoas passam fome todos os dias no mundo”, argumentou.
O presidente mencionou ainda as mulheres como vítimas dos conflitos e defendeu sua valorização e o fortalecimento do seu papel na resolução dos conflitos. “Mais do que isso, o empoderamento das mulheres é pré-condição para o pleno desenvolvimento econômico e social”, concluiu.
A Cúpula de Chefes de Estados e Governo terá uma sessão ampliada na quinta-feira (24/08). O Brasil já foi sede do encontro em 2010, 2014 e 2019.
Fonte: Gov.com
